Síndrome de Burnout em Vestibulandos


A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico, de caráter depressivo, que se caracteriza por um intenso esgotamento físico e mental, relacionado ao trabalho ou à carga de estudos.
Essa síndrome vem acometendo, todos os anos, um número significativo de estudantes em várias partes do mundo. Uma pesquisa, realizada em 2005 nos Estados Unidos pela National College Health Assessment (NCHA), mostrou que 25% dos 17 mil estudantes entrevistados alegaram terem se sentido, devido ao estresse pela carga de estudos, tão deprimidos que sentiam dificuldades em “continuarem funcionando devidamente”. 21% pensaram seriamente em suicídio.
É importante salientar que a Síndrome de Burnout se diferencia do estresse, caracterizado por um estado de tensão emocional que interfere globalmente na vida do indivíduo. A Síndrome de Burnout, por sua vez está diretamente relacionada à ocupação – o trabalho ou a carga de estudos. Pode então ser considerada como uma consequência do estresse ocupacional crônico e patológico.
Principais Fatores Contribuintes
Normalmente, o vestibular acontece em meio à adolescência. A adolescência é uma fase em que o indivíduo está passando por grandes questões existenciais: ainda não sabe exatamente qual a sua identidade individual, pois não é mais criança e ainda não é adulto. Está buscando suas potencialidades, aumentando seu círculo social, e, por consequência, fazendo novas identificações para que possa formar sua identidade adulta e descobrir seu papel no mundo. Em meio a essas oscilações emocionais e às recentes alterações hormonais, características do período de puberdade, precisa decidir quem ele gostaria de ser em seu futuro profissional. E, mesmo que possua muitas informações teóricas sobre determinadas carreiras e profissões, ele ainda não conhece as responsabilidades da vida adulta e não possui a vivência das carreiras que se apresentam como opções profissionais. Terá, portanto, que escolher a profissão à qual dedicará sua vida mesmo antes de saber como essa vida será. 
Além de enfrentar suas próprias incertezas quanto ao curso, à universidade e enfim, a todas as mudanças com as quais terá que se deparar, tem ainda que lidar com as pressões exercidas pela sociedade, pela família, pelos amigos e professores quanto às suas escolhas, muitas vezes menosprezadas e desaprovadas quando não estão de acordo com as expectativas.
E, por fim, a alta competitividade de alguns cursos obriga a longas e exaustivas jornadas de estudos e torna incerto o seu sucesso nas provas, podendo interferir negativamente em seu desempenho, uma vez que se vê obrigado a realizar as provas com grande perfeição, uma perfeição que muitas vezes não apresentou em todo o seu histórico escolar.
O somatório desses fatores resulta em altos níveis de ansiedade e estresse, prejudica o bem estar do estudante e pode contribuir para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. É importante salientar que cada sujeito reagirá de forma única às pressões por ele sofridas, e sua reação dependerá de sua estrutura interna. Indivíduos mais perfeccionistas, por exemplo, tenderão a se sentir mais pressionados frente às provas de Vestibular, pois terão mais chances de não ficarem satisfeitos com resultados que julgarem inferiores às suas expectativas.
Características e Consequências Psíquicas


Para o diagnóstico da Síndrome de Burnout nos estudantes, é necessário que apresentem os 3 sintomas especificados abaixo:
·         Exaustão emocional: forte sensação de esgotamento e falta de recursos para lidar com as atividades relacionadas aos estudos;
·         Despersonalização: falta de respeito e consideração com os colegas, professores, funcionários ou instalações do colégio, ou comportamento apático, cínico e insensível;  e
·         Diminuição da realização pessoal – falta de sentido e motivação em relação aos estudos, além de constante sensação de fracasso.
Outros sintomas secundários também podem estar presentes, mas não são determinantes para o diagnóstico. Entre os principais, estão: queda no rendimento escolar, queda na capacidade de absorção e retenção de novas informações, alteração no sono e no apetite, fadiga crônica, diminuição da capacidade de concentração e foco, isolamento social, inquietude, baixa autoestima, pouca tolerância à frustração, pessimismo, sentimentos depressivos, consumo aumentado de álcool, café, medicamentos e drogas ilícitas, absenteísmo, desorientação e dificuldade em organizar e cumprir a carga de estudos.
Entre as consequências psíquicas da Síndrome de Burnout, a principal e mais preocupante é a depressão que, em casos mais graves, pode levar ao suicídio. Além desta, podem ser citadas também: crises frequentes de ansiedade, sensibilidade aflorada, doenças psicossomáticas, como enxaquecas, asma e alergias, além de, em casos mais grave, Transtornos de Ansiedade, como o Transtorno do Pânico e o Transtorno Obsessivo Compulsivo.
Mas, seja qual for a consequência, ela trará desestabilização e prejuízo emocional para a vida desse sujeito. Por isso, é fundamental que ele busque ajuda profissional nos primeiros sinais de que não está bem. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e se der o início do tratamento, mais chances ele terá de reverter esse quadro antes que este atinja maiores proporções.
Cuidados frente à Síndrome de Burnout em Vestibulandos
Pais e professores não devem pressionar o vestibulando mais do que ele pode suportar. Isso não quer dizer que devem se ausentar ou deixa-lo enfrentar sozinho essa etapa. Devem estar abertos ao diálogo e não limitar a individualidade do vestibulando quanto às suas escolhas, afinal será ele quem vivenciará a profissão. O indivíduo deve poder falar de suas aflições e receios, e pedir auxílio em questões onde haja dificuldade – tanto questões escolares quanto emocionais. A família e a escola deve também auxiliar o aluno na organização de um cronograma de estudos e colocar limites para que esse cronograma se cumpra, desde que se considere o lazer em tal planejamento.
Apesar de não se dever diminuir a importância do rápido ingresso em uma universidade, permitindo a displicência que levaria à reprovação, muitas vezes é preferível adiar por algum tempo, um par de anos talvez, do que forçar as capacidades do indivíduo e ter que remediar as consequências psíquicas ocasionadas por um quadro de Síndrome de Burnout, já que o tratamento muitas vezes pode ser longo e exigir a combinação de psicoterapia com o uso de medicamentos psiquiátricos.   
(artigo escrito por Fernanda Abatepaulo Linhares Guimarães)