Scanners – Sua Mente Pode Destruir: Os Efeitos da Inadequação.

O texto abaixo é um trecho do artigo contido no livro "ALÉM DA SINOPSE", escrito pelo Especialista em Sociologia e Educação Roberto Guimarães e por mim.



Para ler o texto completo, além de outros artigos como este, adquira o livro "ALÉM DA SINOPSE - A Arte imita a Vida", disponível no site Clube de Autores




AVISO: o texto abaixo contém SPOILERS.
O filme Scanners é mais uma obra imperdível de David Cronenberg. Trata de seres humanos que possuem poderes telepáticos e telecinéticos, denominados Scanners, criados por uma indústria de armamentos e segurança. Quando um deles, Revok, revolta-se e cria uma organização de Scanners que visa dominar o mundo, a ameaçada Consec, a empresa que deu origem ao programa de Scanners, recruta um Scanner e tenta infiltra-lo no grupo de Revok.
Mesmo se fosse apenas um filme de ficção científica que trata da luta do bem contra o mal, como pode parecer no início, já teria valido a pena, pois a narrativa promove tensão do início ao fim. Mas, como toda obra de David Cronenberg, há muito mais por detrás da aparência de filme de terror classe B. Poderíamos falar da crítica às indústrias bélicas e o inconsequente desenvolvimento de armamentos com grande poder de destruição, como vemos na grande concorrência que se estabelece entre a Consec e a Empresa de Revok, o que reforça a cultura da violência e as dinâmicas de dominação; poderíamos mencionar o incessante desenvolvimento de drogas que beneficiam a indústria farmacêutica e entorpecem a nossa existência em vez de curar, mas ainda assim são indicadas em larga escala por muitos médicos como no consultório do pediatra que injeta Ephemerol nas gestantes; entre outros.
Decidimos, porém, abordar o tema da inadequação sofrida por indivíduos que não se enquadram nos formatos de vida estabelecidos coletivamente, ou seja, nos referenciais de sucesso valorizados e aceitos massivamente. “Ser diferente” já pode gerar sofrimento somente pelo fato de não se dispor de modelos que orientem as escolhas, o que aumenta a incerteza sobre os possíveis resultados e angustia pelo medo de errar. Para quem se adequa, há muitos caminhos validados pela maioria, o que os torna “seguros”. Mesmo quando estes não satisfazem, pode-se atribuir a culpa aos modelos e com, isso, amenizar a auto depreciação, afinal, tudo foi feito tudo de acordo com o que devia ser feito; o arrependimento de ter se submetido e jogado a vida fora diminui quando se pode responsabilizar terceiros pelo engano.