Sult – Fome: Dignidade e Sobrevivência

O texto abaixo é um trecho do artigo contido no livro "ALÉM DA SINOPSE", escrito pelo Especialista em Sociologia e Educação Roberto Guimarães e por mim.

Para ler o texto completo, além de outros artigos como este, adquira o livro "ALÉM DA SINOPSE - A Arte imita a Vida", disponível no site Clube de Autores





AVISO: o texto abaixo contém SPOILERS.

O filme Fome, de 1966, conta a história de um escritor que tenta publicar seus textos e sair da situação de miséria em que se encontra. O que chama a atenção é o fato de que o protagonista, durante toda sua jornada, é arrebatado por uma luta interna: de um lado, a fome e os impulsos para a sobrevivência; de outro, a tentativa de manter sua dignidade.

Boa parte dos estudos sobre Ética e formação moral dos seres humanos apresenta o conflito entre as necessidades do corpo e as restrições necessárias ao convívio ou impostas pelas autoridades para atender seus propósitos. Todo agrupamento de pessoas é regido por normas – mesmo aqueles que alegam não possuir regras – e muitas delas são contrárias aos impulsos mais naturais dos indivíduos. É um exemplo disso o grande número de regras morais ou legais referentes à sexualidade. Por mais que uma sociedade possa se dizer defensora da liberdade de ser e agir, certamente se assustaria e provavelmente rejeitaria relacionamentos românticos entre irmãos ou entre pais e filhos, por exemplo.

Como o ser humano normalmente se desenvolve em sociedade, conforme percebe ou entende as vantagens diretas ou indiretas do pertencimento ao grupo, ele tende a formar sua identidade com referência a muitas das premissas compartilhadas por aquele grupo. Ou seja, quanto mais o indivíduo entende que o grupo o beneficia, mesmo que não seja verdade, mais tende a participar e compartilhar dos valores estabelecidos conjuntamente, mesmo que limitem suas potencialidades individuais. Ainda nos casos em que os conflitos entre a individualidade e os ditames da moral ou das legislações são graves e favorecem a inadequação, muitos indivíduos “andam na linha” apenas pela perspectiva de punição que o grupo pode lhe impor.