Bicho de Sete Cabeças: O Fracasso da Criminalização como Solução para a Drogadição

O texto abaixo é um trecho do artigo contido no livro "ALÉM DA SINOPSE", escrito pelo Especialista em Sociologia e Educação Roberto Guimarães e por mim.



Para ler o texto completo, além de outros artigos como este, adquira o livro "ALÉM DA SINOPSE - A Arte imita a Vida", disponível no site Clube de Autores




AVISO: o texto abaixo contém SPOILERS.
Bicho de Sete Cabeças é uma excelente obra do cinema nacional baseada em fatos reais. Um jovem é forçadamente enviado a um manicômio e submetido a traumáticos tratamentos, entre eles os choques elétricos na cabeça que lhe deixaram severas sequelas. O ocorrido se dá após seu pai encontrar um cigarro de maconha em seus pertences. Sem saber como enfrentar o suposto vício do filho, decide pela internação.
O filme deixa transparecer a desproporção entre o “problema” detectado e as medidas tomadas para sua solução, medidas estas que não somente não cumpriram com seus objetivos como criaram problemas irreversíveis. Tal discrepância é resultado da ignorância.
Quando as políticas públicas adotadas para lidar com o uso de determinadas substâncias são a criminalização e a medicalização, temos refletido o entendimento de que somente o indivíduo é responsável pela drogadição. Mas, atribuir toda a culpa ao indivíduo por aquilo que lhe aflige impede de encontrar as verdadeiras raízes do problema – aqui estamos assumindo o uso de substância como problema nos casos em que se configura vício, ou seja, a dependência em algum grau da substância em questão, cuja ausência gera sofrimento.
Não nos cabe aqui tratar da validade da legalização do uso da maconha – tema recorrente na atualidade – ou de outras substâncias consideradas ilícitas. Apenas queremos mostrar que a criminalização e a medicalização são soluções frágeis para questões tão complexas como o vício em substâncias e podem levar a população a tomar medidas pouco efetivas para lidar com o problema.
Como o vício é visto quase exclusivamente pelo caráter da dependência fisiológica do organismo por determinada substância, uma vez que a química afeta o funcionamento de alguns órgãos, tende-se a segmentar o problema e a analisar a questão somente após o vício ter se instaurado. Certamente os fatores biológicos são importantes no desenvolvimento do indivíduo, e assim, alguns organismos podem ser mais afetados pelas drogas do que outros e predispor mais ou menos ao vício. Porém, a questão que deve ser posta em primeiro lugar, e que raramente é feita, é o que impulsiona o indivíduo ao consumo exagerado de substâncias, mesmo antes de se configurar vício.
Aqui entram os fatores sociais, que sabemos serem determinantes para a qualidade do desenvolvimento de cada indivíduo. O uso de substâncias está relacionado, em primeiro lugar, à busca por uma satisfação imediata, afinal, por mais que se queira negar, as drogas, em geral, oferecem prazer ou afastam do sofrimento num primeiro momento. Assim, a procura por satisfação pode ter origem na necessidade de compensar condições de vida penosas, como a falta de objetivos e perspectivas, muito comum em sociedades desiguais e injustas como a nossa.